Foi recentemente publicado o AR6 WG II Report: 6º Relatório de Avaliação do Grupo de Trabalho II do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) que foca Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade. O relatório foi aprovado em 27 fevereiro por 195 governos membros do IPCC e apela à ação urgente, necessária para lidar com os riscos crescentes. A principal mensagem é que as alterações climáticas são uma ameaça ao bem-estar humano e à saúde do planeta e que a ação atempada (mas urgente) pode garantir o nosso futuro comum.
Neste relatório é destacado o papel das interligações entre várias tendências globais, incluindo a urbanização crescente. As cidades, onde vive atualmente mais da metade da população mundial, são especialmente destacadas no AR6 WG II e referidas como sendo focos de impactos e riscos, mas também como uma parte crucial da solução, por exemplo recorrendo a edifícios verdes, energia renovável, e sistemas de transporte sustentáveis. As medidas de mitigação de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e de adaptação às alterações climáticas são urgentes e vitais para garantir as condições de vida nas cidades em geral e, em particular, nos edifícios que estas contêm.
E que tipo de ações podem ser levadas a cabo nas cidades ao nível dos edifícios?
Quando se fala em mitigação de emissões de GEE em edifícios na Europa é frequente considerar-se a possibilidade de substituição de equipamentos por outros mais eficientes, melhorar o envelope térmico dos edifícios (paredes, coberturas, janelas/portas e pavimentos) ou a integração de opções geração de energia a partir de renováveis (solar fotovoltaico, solar térmico, biomassa e outras). Mais recentemente começa a fazer parte do nosso vocabulário “edifícios de baixa ou quase zero energia” ou NZEB, que deverão resistentes ao calor/frio e operados de forma otimizada por forma a garantir um desempenho energeticamente eficiente. Surgem também, com menos expressão, diversos projetos piloto que incluem opções de mitigação mais inovadoras como a construção economicamente viável recorrendo a materiais de baixo-carbono e duráveis, como por exemplo a madeira. Por fim, algumas iniciativas visam a captura de carbono da atmosfera em materiais de construção. Em toda a Europa, predominam as medidas de mitigação relacionadas com a melhoria da eficiência energética nos edifícios, bastante orientadas para a climatização. Estas medidas, além de permitirem mitigar emissões de GEE levam a redução de custos com energia e aumentam o conforto térmico para os habitantes e utilizadores.
No que respeita a opções de adaptação afetando os edifícios urbanos, existe um menu de medidas usadas na Europa que vai desde alterações tecnológicas e/ou construtivas até abordagens de planeamento urbano ou legislativas (ex. alteração ou melhoria de regulamentos de construção). As medidas tecnológicas e/ou construtivas de adaptação incluem aumentar /melhorar o isolamento térmico, instalação de soluções ativas de arrefecimento, renovação urbana promovendo edifícios com design bioclimático, criação de coberturas verdes, promoção de ensombramento e a construção “fria”. De entre as abordagens de planeamento urbano possíveis destaca-se a recuperação de áreas degradadas, desenvolvimento urbano compacto (ou de baixa densidade), promoção de usos do solo mistos e a integração dos impactes das alterações climáticas no Plano Diretor Municipal.
Numa análise dos planos de adaptação de 168 cidades representativas da União Europeia (e UK) conseguimos perceber que cerca de 76% dos planos adota pelo menos uma medida de adaptação para os edifícios. A adaptação de edifícios está entre as três áreas temáticas de adaptação mais consideradas por todas as cidades analisadas, apenas atrás da preservação da biodiversidade e do ciclo urbano da água. De entre as medidas adotada para edifícios, claramente predomina a alteração ou melhoria de regulamentos de construção transversalmente a todos os países e regiões da EU. Da mesma forma, seguem-se as medidas destinadas a melhorar o isolamento térmico, sobretudo relacionado com o aumento de temperatura e redução do impacto das ilhas de calor urbanas. Surgem depois algumas medidas com aplicação mais regional: o zonamento para gestão de cheias, por exemplo, é mais expressiva em cidades nos países Nórdicos e Báltico, ao passo que medidas relacionadas com ensombramento e arrefecimento ativo surgem principalmente nas cidades do Sudoeste da Europa.
Independentemente do tipo de medida e se se trata de adaptação ou mitigação, importa reter duas mensagens finais, também referidas no relatório do IPCC: (1) as políticas de mitigação e de adaptação devem garantir o envolvimento de todos no seu planeamento, com especial atenção à equidade e justiça, sem descurar o conhecimento local e (2) temos que agir urgentemente – ainda estamos perante uma janela de oportunidade para atuação mas esta está a fechar-se muito rapidamente.