Artigos de Opinião

Miguel Lacerda: “Redes sociais levantam a ponta do iceberg”

Miguel Lacerda,
CASCAISEA – Associação Ambiental

Nos dias que correm o lixo marinho já passou a ser um tema, uma preocupação, um flagelo GLOBAL, mas não podemos esquecer, se isto está a acontecer muito se deve ao progresso das novas tecnologias equipamentos e comunicação.

Hoje, quase todos, podemos fazer uma notícia e partilhá-la de imediato, basta estar em cima do acontecimento, ter um telemóvel e rede/internet. As notícias que mais chocam (que ferem a sustentabilidade das pessoas) acabam por ser aquelas que mais se difundem, que mais visualizações e partilhas têm.

O lixo marinho é um flagelo que se arrasta há várias décadas, agravando exponencialmente de dia para dia. Não tenhamos dúvida que se hoje muito se fala de lixo marinho se deve a todos os cidadãos que deste flagelo têm feito notícia. A comunicação social aparece por arrasto, percebeu que além do futebol, política, corrupção, desgraça… outros problemas também chocam e preocupam a sociedade em geral, basta seguir as redes sociais.

De quem é a responsabilidade?

A responsabilidade é de todos!
O mal está no comportamento humano, no seu egocentrismo, na falta de respeito pelo próximo, pelo planeta e por todos os organismos que com ele coabitam.
A proliferação humana e tudo o que isso representa são um facto, mas a procura excessiva do bem-estar e do facilitismo… leva a que criemos maus hábitos e comportamentos.

É sempre fácil apontar o dedo à classe política, aqueles que legislam as leis, as regras, os procedimentos… aqueles que “têm a faca e o queijo na mão”. Existe sim, uma grande apatia e cobardia por parte da classe política em abordar e resolver assuntos desta natureza, muitos interesses económicos estão envolvidos, é sempre mais fácil ignorar ou deixar arrastar…

No entanto não podemos deixar de mencionar e responsabilizar também a comunidade científica que acordou tarde, muito tarde para este flagelo global. Por onde andaram tantos ambientalistas que hoje parecem estar tão atentos e proativos? (foram décadas de indiferença). Hoje muito pouco mudou, fala-se mais, discute-se mais e passeia-se muito para congressos e convenções…, mas pouco ou nada resulta ou é feito.

É triste dizer, mas foram de facto as redes sociais (hoje também os subsídios) que despertaram muita gente para este grande flagelo Global.

O lixo marinho

O lixo marinho é um problema bem maior do que aquilo que possamos pensar ou ver, tal como se tratasse de um iceberg, só uma pequena parte (a emersa) é visível e é desta pequena parte que todos falamos e denunciamos ou fazemos notícias…

A maior parte do lixo marinho (cerca de 80%) está envolvido e depositado no fundo dos Oceanos, ou seja, é lixo que não se vê, é lixo de que não se fala, é lixo que não é monitorizado ou contabilizado…

Hoje quando falamos de lixo marinho, parece que o problema está só centralizado e focado nos plásticos e seus derivados.

O plástico é só mais um dos grandes fatores comprometedores da sustentabilidade dos Oceanos, existem outros produtos, matérias com consequências tão ou mais drásticas e irremediáveis que diariamente vão parar aos Oceanos e que ninguém fala deles como os resíduos domésticos, industriais, nucleares…

O plástico o “elo” mais fraco

O plástico é uma matéria prima nobre e extremamente útil (tendo em conta a proliferação humana e o progresso), usamos plástico em tudo.

O facto de se falar muito dos plásticos, quando abordamos o tema lixo marinho tem um propósito, uma razão de ser, cerca de metade da variedade dos plásticos existentes têm uma densidade inferior a 1gr/cm3, isto leva a que esses mesmos plásticos flutuem.

Os plásticos porque não se lhes dá o destino mais apropriado, como a reutilização ou a reciclagem, quando usados de forma descartável, irresponsável e abandonados por todo o lado, devido à sua leveza, densidade, resistência e formas… acabam (na maior parte dos casos) ir parar ao mar, arrastados pelo vento, pela chuva ou mesmo diretamente pela mão do homem.

No mar todo o lixo que flutua acaba por ser arrastado pelos ventos, correntes e ondulação, convergindo em ilhas no meio dos oceanos ou atirado para o litoral onde rapidamente é fragmentado pela ação direta do mar. Porque o plástico é visível, fácil de identificar e extremamente resistente acaba por ser a matéria que mais encontramos e que mais nos incomoda.

O problema do lixo marinho não está nos plásticos, mas sim no comportamento, na falta de educação/formação, no desleixo, na indiferença e no egocentrismo de um único organismo o HOMEM, organismo esse que vai acabar por se tornar vítima dele próprio.

Soluções

Eu Miguel Lacerda iniciei esta campanha de sensibilização por causa do lixo marinho em 1981 (uma ação subaquática na baía de Cascais) quase fui preso por trazer lixo do mar para terra. Hoje quase somos heróis por o fazer… Hoje com a associação CASCAISEA, fazemos ações de remoção de lixo marinho por todo o Atlântico norte (mais de 100 ações por ano) mais incididas no litoral Oeste Sintra Cascais, onde contabilizamos e monitorizamos o lixo que removemos, são muitas toneladas todos os anos. Mais de 70% do lixo marinho removido tem origem nos utentes do mar (principalmente profissionais). Se avaliarmos os plásticos que flutuam e que mais ocorrem por todo o litoral, em termos de volume destaca-se o PEAD (plástico de alta densidade) no entanto a esferovite EPS é o plástico mais preocupante, não só pela quantidade que ocorre, pela dificuldade de contabilizar corretamente e muito pela complexidade de a remover… é o plástico que mais rapidamente se degrada e entra na cadeia alimentar de muitos organismos marinhos.

Muitas decisões podiam ser tomadas de forma a contribuir para uma melhor salubridade e sustentabilidade dos Oceanos (assim houvesse vontade e coragem política) o proibir o uso da esferovite no Mar, seria sem dúvida um passo de gigante, uma machadada colossal neste imenso “iceberg” o lixo marinho.


PUB
PUB

Related posts

This website uses cookies to improve your experience. Ok Read more