As alterações climáticas provocadas pelas emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera provenientes de algumas atividades humanas constituem um problema crescente que é urgente resolver. O gás com efeito de estufa cujas emissões mais contribuem para a mudança do clima é o dióxido de carbono (CO2), proveniente da combustão dos combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás natural – e das alterações no uso do solo à escala global, em particular a desflorestação. Há ainda que considerar as emissões antropogénicas de metano e óxido nitroso que são poderosos gases com efeito de estufa. O aumento da concentração de gases com efeito de estufa aumenta a quantidade de energia retida no sistema climático o que conduz a um aumento da temperatura média global da atmosfera à superfície e à maior intensidade e frequência de eventos meteorológicos extremos tais como ondas de calor, secas, eventos de precipitação elevada em intervalos de tempo curtos, que provocam enxurradas, inundações e deslizamentos de terra, bem como temporais e ciclones tropicais mais violentos. No período de 2000 a 2019, registaram-se 11000 eventos meteorológicos extremos que causaram mais de 475 000 vítimas mortais e perdas globais estimadas em 2,56 biliões (1012 ou milhões de milhões) de dólares.
A temperatura média global à superfície no ano de 2020 atingiu um máximo igual ao de 2016 de 14,9o C o que corres ponde a um aumento de 1,2o C relativa mente ao que se considera ser o valor pré-industrial, ou seja, a média do período 1850-1900. Acresce que a década de 2011-2020 foi a mais quente jamais regis tada. O Acordo de Paris, obtido em 2015 para travar a mudança climática, tem o objetivo de manter bem abaixo de 2o C o aumento da temperatura média global relativamente ao período pré-industrial e continuar os esforços para limitar esse aumento a 1,5o C acima do nível pré-industrial, reconhecendo que tal irá reduzir significativamente os riscos e os impactos das alterações climáticas. Já temos um aumento de 1,2o C pelo que se tornou urgente atuar.
Em junho de 2020 a Sibéria teve uma in tensa onda de calor na qual se observou pela primeira vez uma temperatura de 38o C acima do Círculo Polar Ártico na cidade de Verkhoyansk, onde no inver no se atingem temperaturas inferiores a -50o C. O ano 2020 foi catastrófico em termos de fogos florestais. Secas severas e temperaturas elevadas em muitas regiões provocaram fogos na Sibéria, nos EUA, onde ardeu a maior área de que há memória totalizando 4,1 milhões de hectares e na Austrália onde arderam 18,6 milhões de hectares de floresta e 3500 casas. Cerca de 30% da região do Pantanal no Brasil ardeu. Portugal teve uma área ardida de 65887 hectares, a segunda maior da UE.
O ano de 2020 foi também o mais tempestuoso de que há memória no Atlântico, com 30 tempestades tropicais, 6 furacões de máxima intensidade (categoria 5) e 13 muito intensos. Dois destes furacões, Eta e Iota, devastaram parte do Panamá, Cos ta Rica, Honduras, Nicarágua, El Salva dor, Guatemala e Belize, sucessivamente no mês de novembro obrigando à deslocação de mais de um milhão de pessoas e semeando a malnutrição e a fome. O ciclone Goni ao penetrar nas Filipinas provocou ventos recordes de 315 km/h. Nos EUA o custo da destruição provoca da pelos furacões foi avaliado em 37000 milhões de dólares. À escala global, 2020 teve 103 ciclones tropicais quando a média era no passado de 80. As inundações de junho no rio Yangtzé, China, provoca ram 278 mortes, e provocaram prejuízos avaliados em 35000 milhões de dólares de acordo com a Seguradora Aon.
Para travar as alterações climáticas é necessário descarbonizar a economia mundial. Quanto mais tarde se fizer esta transição energética dos combustíveis fósseis para as energias renováveis maior será o aumento da temperatura média global e mais intensos e frequentes os eventos extremos. Para cumprir a meta do Acordo de Paris é necessário descarbonizar a economia global até 2050 o que é extremamente difícil mas não impossível. A UE, bem como alguns países europeus, como é o caso de Portugal, estabeleceram um roteiro para a neutralidade carbónica até 2050.
Para conseguir atingir a neutralidade carbónica é necessário que as pessoas estejam bem informadas sobre os riscos da inação e saibam como podem contribuir para esse fim individualmente e co letivamente.
As áreas urbanas consomem atualmente mais de dois terços da energia gerada à escala mundial e representam mais de 70% das emissões globais de CO2. A percentagem é maior do que 70% se além das emissões territoriais contabilizar mos as emissões resultantes do consumo de bens produzidos fora do território urbano. Estas são particularmente elevadas nas grandes cidades dos países com economias avançadas onde o rendimento per capita é mais elevado e que importam muitos bens de outros países. Contudo as cidades podem contribuir de forma determinante para a solução do problema das alterações climáticas. As Câmaras Municipais têm a capacidade de promover políticas de mitigação (redução das emissões) e de adaptação às alterações climáticas no município por meio de regulamentos, instrumentos e políticas no urbanismo, na eficiência energética dos edifícios, no desenvolvimento de redes elétricas inteligentes, redes de prossumidores (prosumers) de energia elétrica, espaços verdes, trans portes públicos com energia elétrica, gestão de resíduos, entre muitos outros domínios. A nível individual é importante consumir menos, reutilizar o que seja possível, reparar em lugar de descartar e reciclar.