Artigos de Opinião

Bruno Navarro, Domingos Lopes: “Sustentabilidade e Desafios no Vale do Côa”

Foi com consternação que acabámos de tomar conhecimento do falecimento do Prof. Doutor Bruno Navarro. Apresentamos à família os mais sentidos pêsames.

IntelCities, Revista das Cidades Inteligentes
Bruno Navarro,
Presidente da Fundação Côa Parque

Os territórios precisam de se reinventar e encontrar dentro de si dinâmicas que promovam o seu desenvolvimento integrado, valorizando os seus recursos, estimulando a economia assente na gestão eficiente desses recursos e, em última análise, promover o bem-estar das suas populações. Este é um princípio comum a todos os territórios. Em Portugal, a faixa interior e mais rural apresenta desafios ainda mais marcantes, porque aqui tudo resulta ampliado, muito associado a uma ideia de interioridade e desertificação, entretanto envernizada com a capa conceptual de território de baixa densidade, que tem afastado população, afastado investimento, com implicação direta num crescente abandono e o ressurgimento de desafios estruturantes, desde logo o de gestão dos riscos, que não podem ser dissociados das problemáticas dos incêndios florestais.

As alterações climáticas são um problema que torna o cenário aqui descrito mais complexo, desde logo, porque mais imprevisível. A investigação científica necessária à mais completa compreensão do processo, e dos riscos que ele acarreta, é fundamental. O estímulo à investigação científica, que melhor permita compreender tendências de evolução, riscos e oportunidades dos diferentes cenários de investigação científica, está sempre presente na gestão da Fundação Côa Parque. Os estatutos da Fundação Côa Parque estabelece como objetivos, entre outros, a promoção de atividades de educação ambiental, numa ótica de complementaridade entre as vertentes do património cultural e natural, com vista à sensibilização de diversos públicos para a proteção e valorização dos recursos hídricos, espécies e habitats da região em que se insere bem como constituir-se como Pólo de investigação científica e de atração turística.

Domingos Lopes,
Vice-Presidente da Fundação Côa Parque

A mais recente Call da FCT para estímulo da investigação científica focada no Vale do Côa, de que resultou um financiamento de 2 milhões de Euros para 7 projetos de investigação, a ser anualmente renovado, constituiu numa oportunidade histórica e única para recentrar a atenção sobre este território tão singular e portentoso, para promover conhecimento que alavanque o seu desenvolvimento e permita a adaptação e mitigação dos efeitos das alterações climáticas.

Este é um território que acolhe as preocupações da comunidade científica e se constituí como laboratório natural para experimentações que nos permitam aumentar o conhecimento, compreender melhor um conjunto de fenómenos, reforçar oportunidades, antecipar dificuldades e disseminar esse conhecimento junto da comunidade escolar e das comunidades locais, com quem pretendemos trabalhar em estreita articulação.

De entre os projetos financiados há alguns em que a temática específica das alterações climáticas é tratada, como o estudo do impacto que diferentes cenários e modelos de alterações do clima, nos principais setores de atividade deste território (olival, vinha, amendoal, entre outros), permitindo antecipar e prever e antecipar esses impactos, com as vantagens que daí advêm na possibilidade de definir estratégias de gestão mais eficiente. Há ainda projetos com um enfoque no estudo e valorização do património natural deste território (que complementa e amplia o magnífico património cultural aqui existente), no sentido de criar oportunidades de valorização destes espaços (em especial do olival, de plantas com interesse aromático e medicinal, entre outros) e promovendo a sua valorização e gestão sustentável. Como reforçou o Senhor Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, na abertura das conferências Ciência 20, no passado mês de Outubro, “a falta de equilíbrio com a natureza leva-nos a perceber que é preciso um novo conhecimento, com trabalho conjunto entre várias instituições e diferentes áreas do saber”. É deste diálogo entre diferentes áreas de conhecimento, numa busca para uma maior compreensão de processos que são complexos, que se promove e assentam estratégias de desenvolvimento de um território cheio de potencialidades e desafios como é a área de influência do Parque Arqueológico do Vale do Côa que se estende por duzentos quilómetros quadrados, integrando área dos concelhos de Vila Nova de Foz Côa, Mêda, Figueira de Castelo Rodrigo e Pinhel.

Sendo preocupação máxima da Fundação Côa Parque funcionar como estrutura facilitadora e mobilizadora desta região, funcionando como plataforma de valorização dos seus recursos endógenos e força motora do desenvolvimento do território do Vale do Côa, em complemento e em rede com todas as instituições que gerem e trabalham este território, é nosso objetivo reforçar os elementos de interesse que captem a visitação de novos públicos.

Entre muitos outros projetos, é neste contexto, integrando princípios de preocupação ecológica, de manutenção da sustentabilidade dos territórios, e reforçando o caráter educativo da Fundação, que preparamos atualmente um projeto de valorização do espaço envolvente ao museu. Queremos que tenha um caráter educativo e de divulgação científica, que reforce a valorização do potencial natural desta região, que seja de fácil manutenção e que integre as preocupações crescentes que a problemática das alterações climáticos vêm a acentuar. É também seguindo este desígnio, que estamos a projetar, nas imediações do Museu do Côa, a criação de uma Quinta Ciência Viva da Azeitona e do Azeite, projeto inovador, a ser integrado na futura Rede Nacional de Quintas Ciência Viva, que permitirá estimular o desenvolvimento local e social da região, ao constituir-se como um espaço aglutinador, de produção agrícola, divulgação de ciência, inovação científica e tecnológica, empreendedorismo e lazer, que resulta de sinergias entre o mundo rural, a comunidade científica e académica e o tecido económico-empresarial.

Um território que consegue antecipar os impactos deste desafio tão complexo, como o das profundas consequências das alterações climáticas, é um território que terá mais oportunidades de planificar antecipadamente estratégias que permitam diminuir esses impactos, aumentar a resiliência e coesão territorial e social, e garantir uma valorização efetiva dos seus recursos patrimoniais, culturais e naturais, potenciando o desenvolvimento local sustentável com impacte a nível cultural, turístico, social e económico.

O Território do Côa quer continuar a inspirar os visitantes e a servir de motor de desenvolvimento de quem aqui habita, antecipando problemas e estudando estratégias de resposta a esses desafios crescentes, como são as Alterações Climáticas.


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