Artigos de Opinião

Beatriz Dias: “As TI nas cidades inteligentes”

Beatriz Dias,
Estudante de MGSI no ISCTE

Abílio Oliveira,
Professor no ISCTE, Investigador no ISTAR,
Diretor da Pós-Graduação em Informática Aplicada às Organizações

Nas últimas décadas temos assistido a uma série de fenómenos, como o crescimento exponencial da população mundial e as alterações climáticas, que agitaram as estruturas do único planeta que permite a sobrevivência da espécie humana. Sabemos hoje, que os maiores perdedores da devastadora crise climática que nos assola, é o ser humano. Tudo o resto tem a capacidade de se regenerar, como se de um reset se tratasse neste planeta azul, em que o vírus mais devastador é, afinal, o ser humano, e que, após anos a causar danos tremendos, precisa urgentemente de alterar atitudes e comportamentos, para a máquina Natural se regenerar e continuar a funcionar. Os avisos são claros, é uma corrida contra o tempo e a sustentabilidade precisa de ser assegurada. Na tentativa de retardar grandes problemas como a escassez de água potável, o aumento do aquecimento global e grandes catástrofes naturais, as cidades começaram a criar soluções, baseadas em tecnologia, que permitam otimizar recursos e infraestruturas, melhorando a qualidade de vida dos seus habitantes. Aparece então o conceito de cidade inteligente. A solução aparenta ser fácil: fazer uso das Tecnologias da Informação e do Conhecimento para recolher e analisar grandes quantidades de dados gerados pelas mais diversas fontes da cidade. Transformar os dados em informação, a informação em conhecimento, e com o uso da criatividade, criar soluções que melhorem os serviços da cidade e o uso dos seus recursos. Contudo, na prática, a criação de uma cidade inteligente é muito mais do que escolher a tecnologia certa para criar soluções inovadoras, é necessário ter em mente uma abordagem sistémica da cidade, para que a gestão e a integração dessas mesmas soluções sejam bem-sucedidas. É claro que a adoção de tecnologia é fundamental, usando-a os governantes, podem não só espalhar pela cidade uma grande quantidade de sensores que permitem um acompanhamento em tempo real da cidade, como podem também perceber de forma mais clara as necessidades dos seus habitantes. Aquando a definição do plano de transformação inteligente da cidade, é necessário definir áreas prioritárias de investimento e criar uma política de gestão de dados, que assegure a confidencialidade das fontes e o acesso restrito aos mesmos. De seguida, é necessário assegurar que não há uma implementação desigual das tecnologias, o que poderia contribuir para o aumento da estratificação da sociedade, criando uma “divisão digital”. Por último, e tendo em linha de conta que as pessoas tendem a descartar soluções demasiado complexas, ou que não sabem utilizar, há que garantir a preparação e o treino necessário no uso das novas tecnologias à população, independentemente da sua idade, sexo, origem e classe social. Apesar da complexidade das tecnologias emergentes, para pessoas leigas na área, é necessário criar soluções simples e intuitivas que apelem a necessidades humanas reais, uma vez que os verdadeiros stakeholders de uma cidade são os seus habitantes, logo a transformação da cidade tem de passar por eles. Por último, é importante lembrar, que não existe uma única definição de cidade inteligente, cada cidade é única, com uma cultura, habitantes e estrutura diferentes, logo, com necessidades diferentes. Durante o seu planeamento é necessário ter em conta estas peculiaridades, considerar os aspetos culturais, sociais, económicos e ambientais de cada região, para evitar um choque tecnológico, para o qual os habitantes podem não estar preparados. No fundo, diferentes visões de uma cidade inteligente representam, visões diferentes de uma sociedade.


PUB
PUB

Related posts

This website uses cookies to improve your experience. Ok Read more