As grandes mudanças derivam, muitas vezes, de gestos simples sobre pequenos formatos. É por isso que, depois de descartado, o litro de óleo que usamos nas frituras de uma semana tanto serve para poluir perto de um milhão de litros de água, como para alimentar a propulsão dos aviões de uma forma mais sustentável e, assim, tornar o céu um pouco menos poluído.
Como? Colocando rotineiramente os óleos alimentares usados (OAU) domésticos num recipiente, depositando-os num oleão para serem posteriormente recolhidos e pré-tratados (para os livrar de impurezas), por operadores como a portuguesa Hardlevel – Energias Renováveis, que depois os encaminha para as refinarias da Península Ibérica, onde estas gorduras – inclusive aquelas que escorremos das latas de atum – são transformadas em biocombustível de aviação.
Não é rocket science, é a mais pura rotina diária, em que participam já centenas de autarquias e muitos milhares de consumidores portugueses, que dão sentido ao trabalho do principal operador do mercado de recolha e pré-tratamento de OAU, a Hardlevel, e a um novo contorno da economia circular.
A mudança começou há alguns anos e são cada vez mais as parcerias que estão a fazer multiplicar, em Portugal e no mundo, os voos comerciais (e militares) que usam combustíveis sustentáveis, como o SAF – Sustainable Aviation Fuel. A prática vem dar cumprimento à obrigatoriedade de incorporação deste biocombustível na aviação da União Europeia e à meta que a IATA – Associação Internacional de Transportes Aéreos definiu para o setor até 2050: chegar à neutralidade carbónica em termos de emissões para a atmosfera.
Esta transformação ecológica está de olhos postos no céu, mas desenrola-se em terra. Cidadão atrás de cidadão, rua após rua, concelho a concelho. Também porque ao evitar-se a contaminação de um milhão de litros de água por aquele que é um dos principais inimigos da qualidade dos recursos hídricos – a gordura – estamos a possibilitar satisfazer as necessidades básicas de uma pessoa durante cerca de 24 anos.
Santarém, Abrantes, Lourinhã e Torres Novas incrementam reciclagem de OAU
Santarém é um dos exemplos. Fruto da parceria com a Hardlevel, o município cresceu 300% face a uma recolha de 2.000 quilos de óleos alimentares usados no ano de 2021. “A solução implementada anteriormente, gerida por uma outra entidade de gestão em alta, não cumpria os requisitos exigidos para garantir um serviço de qualidade na recolha de OAU”, refere Diogo Gomes, vereador da Câmara de Santarém. O município decidiu assim dar um passo mais à frente, com a Hardlevel, decidindo “implementar uma nova rede, composta por 44 oleões inteligentes, que garantisse os requisitos de qualidade e incentivasse ao aumento da reciclagem”, assegura o responsável.
De momento, o concelho tem um rácio de um oleão por 1.500 habitantes na cidade e uma razão de um oleão para 2.000 habitantes nas freguesias rurais, confirma Diogo Gomes.
“O município considera muito importante a possibilidade dos munícipes poderem utilizar o QRCode dos equipamentos para ganharem pontos pela sua deposição”, acrescenta o vereador da capital distrital. Sem deixar de acrescentar que os cidadãos “aderiram bem à nova rede de recolha”. No seguimento, complementa, a autarquia está “a delinear uma estratégia de comunicação, com o envolvimento dos estabelecimentos de ensino, bem como dos agentes essenciais para a mudança de atitude e de comportamento das famílias, em matéria de separação seletiva de OAU”.
No futuro próximo, assevera Diogo Gomes, a autarquia quer alargar o circuito de recolha de OAU para “atingir na cidade um rácio de 1/1.000 habitantes e nas freguesias rurais 1/1.500 habitantes”, tendo por meta aumentar a reciclagem em “pelo menos 50% face aos quantitativos atualmente recolhidos”.
O impacto é triplo, recorde-se. Previne-se a contaminação dos cursos de água (e das Estações de Tratamento de Águas Residuais), potencia-se a produção de uma energia renovável amiga do ambiente e evita-se a emissão de uma média de cerca de 32.000 quilos de gases de efeito de estufa para a atmosfera.
Os municípios de Abrantes, Almada, Lourinhã e Torres Novas participam igualmente deste movimento, integrando a rede montada pela Hardlevel em território nacional, onde chega a mais de 100 concelhos.
“A substituição foi motivada maioritariamente pela deficiência do serviço de manutenção dos anteriores oleões, que se traduzia no seu aspeto exterior e em derrames para a via, factos que comprometiam a fidelização dos munícipes a este sistema específico de recolha”, aponta António Ferreira, chefe da Divisão de Ambiente, Mercados e Feiras da Câmara Municipal de Torres Novas.
Daí que o concelho tenha avançado, também durante o mês de Maio, com a implementação da rede de oleões inteligentes composta por 35 unidades, dos quais 15 na área urbana da cidade (14.000 habitantes) e os restantes 20 distribuídos pelas 10 freguesias (10.000 habitantes).
Mas a municipalidade, que reciclou 1.420 quilos de óleos alimentares usados em 2021, está bastante confiante que esta decisão de avanço tecnológico na gestão de resíduos lhes permitirá aumentar o desempenho na recolha dos OAU num horizonte de cinco anos, dado que “a App poderá contribuir para uma boa interação entre este e o sistema de recolha, promovendo a separação e encaminhamento dos OAU”, aliado à densificação da rede de oleões nas freguesias mais rurais, assegura António Ferreira.
“Quando iniciei funções no município havia uma recolha muito deficitária dos OAU, havendo roubo de óleo dos oleões”, explica Rafael Silva, coordenador de Ambiente do Município da Lourinhã, reconhecendo que, antes, “não havia comunicação nem registo de recolhas”, pelo que não havia como quantificar o que era recolhido.
Lourinhã, recorde-se, foi um dos concelhos pioneiros na adoção desta solução tecnológica, ainda em 2018, e reforçou igualmente uma “maior disponibilidade do serviço à população” (mais de 26 mil residentes), através da instalação de 33 oleões espalhados pelo território, com a preocupação de atender às zonas de maior densidade populacional.
Almada com rede de 61 oleões inteligentes
Uma experiência idêntica revela Patrícia Colaço, Técnica de Ambiente do Departamento de Higiene Urbana do Município de Almada. A rede anteriormente existente não estava a funcionar bem, existindo várias falhas nas recolhas e graves problemas de higienização dos equipamentos. “Desde que mudámos para a rede da Hardlevel deu-se um salto significativo na qualidade do serviço”, assevera.
Com uma rede de 61 oleões inteligentes desde 2020, estrategicamente colocados em todas as freguesias do concelho, o aparato serve atualmente os 177.400 habitantes, e a autarquia ambiciona, “num horizonte de cinco anos”, conseguir “aumentar o número de oleões disponíveis na via pública, assim como sensibilizar os operadores económicos que ainda têm comportamentos incorretos” no sentido do destino final adequado dos seus OAU, refere Patrícia Colaço.
Abrantes, por sua vez, recolheu 1.300 litros de OAU no ano transato, e avançou também para a substituição do seu parque de oleões pelos equipamentos inteligentes da Hardlevel, para servir uma população de 25 mil pessoas.
Com o incremento do dispositivo (21 oleões atualmente), “pretendemos dar uma resposta mais eficaz e de qualidade na recolha de OAU, aumentar a quantidade de óleos reciclados e diminuir a quantidade daqueles que chegam, indevidamente, às ETAR municipais”, explica Sandra Rodrigues, chefe de Divisão de Resíduos Sólidos Urbanos no Serviço Municipalizado de Águas e Saneamento de Abrantes.
O “principal desafio do País está exatamente na recolha dos óleos alimentares usados domésticos. Estima-se que serão cerca de 40 mil toneladas anuais os OAU a desaguar indevidamente nas ETAR”, enfatiza Salim Karmali, co-fundador e administrador da Hardlevel, juntamente com o seu irmão Karim Karmali.
Já no que diz respeito à recolha de OAU nos circuitos industrial e no canal Horeca, responsáveis pela produção de 38% destes óleos em Portugal, o segmento “tem demonstrado nos últimos anos bons índices de eficiência, fruto do enquadramento legal, do controlo existente e dos incentivos criados”, nota Salim Karmali.
Texto da responsabilidade da empresa.
Fonte: MSimpacto